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"Os Bêbados", pintura de José Malhoa, 1907.


Entre becos e estreitas vielas
De velhas e imundas casas verde-amarelas
Moram os bêbados e aleijados
Moram os cornos e falsas donzelas
Entre moscas e urubus famintos
Nas favelas, nos labirintos
Moram as putas e suas crianças
Também mulheres e homens distintos
Nesta morada de ratos e ratazanas
Onde esgotos e ruas não se diferem
Vivem os homens, também as damas
As prostitutas em suas camas
E os vagabundos pelas calçadas
Vivem pedindo, ao que respondo:
— Não tenho nada!
— Não temos nada!
Somos famintos na madrugada
Todos, um bando de errabundos
Sem rumo, sem metas
Somos nada no mundo
Aprisionados por quem nos cerca
Somos todos ratos do subúrbio
Mergulhados nessa merda toda
Que nos sufoca numa pobreza eterna
E nossos filhos e nossos netos
Não terão casa, não terão teto
Nem direitos, nem alfabeto
Senão como nós, seus pais e avós:
Apenas falsos libertos
Cheios de vermes e solitárias
Vivendo essa vida ordinária
Que nos consome
Mais que nossos próprios vermes
Que nos corrompe
Mais que nossos próprios chefes
Ao que respondo:
— Não tenho nada!
— Não temos nada!
Somos famintos na madrugada.

© 2014 O Poeta e a Madrugada Traduzido Por: Girotto Brito - Designed By Girotto Brito.