Mais vale um na mão que dois voando { Parte IV }

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Depois de conversarmos sobre nossas vidas e curtirmos um ao outro entre beijos e abraços levei Jéssica à sua festa e me despedi já que meu pai e minha irmã já me aguardavam no carro. “Vou à sua casa amanhã te ver” ela disse ao entrar em sua casa. Eu entrei no carro e fomos embora. Meu pensamento naquele momento estava confuso, não sabia realmente o que sentia, sabia apenas que era algo bom e que mexia comigo de alguma forma. Ela era linda, estava presente, carinhosa e identificava-se comigo de forma peculiar.

Meu pai dobrava a esquina de casa quando recebi uma mensagem em meu celular. Era Fernanda:

“Boa noite amor, estou de folga e irei passar quatro dias contigo. Estou muito feliz. Chego aí amanhã à tardezinha. Te amo.”

Fiquei atônito! Fernanda e Jéssica estariam em casa no mesmo dia e provavelmente no mesmo horário. Nunca tinha passado por situação semelhante. Não havia como impedir. Eu queria que Fernanda viesse, pois estava com muita saudade dela e ao mesmo tempo temia pela sua vinda, pois não queria magoá-la. E como evitar que se encontrassem? Essa pergunta martelava em minha cabeça quando minha mãe, vendo em meu semblante uma demasiada preocupação, perguntou o que estava acontecendo, e porque eu tinha voltado diferente da festa. Denise então interferiu e contou a ela que eu tinha ficado com a aniversariante.

— Então é por isso que está preocupado?

— Não mãe. Não estou preocupado com o que aconteceu hoje, mas sim, com o que pode acontecer amanhã.

— Como assim? O que pode acontecer?

Contei então a ela sobre a mensagem que acabara de receber de Fernanda e sobre o possível encontro entre ela e Jéssica, e disse da minha preocupação em não ferir nenhuma delas. Minha mãe me olhou com seus olhos pacientes e sábios, e sorriu.

— Vocês jovens, sempre trocando os pés pelas mãos. E o que pensa em fazer? Vai terminar com Fernanda para ficar com a Jéssica que mora aqui ou pretende continuar seu namoro à distância?

— Não sei mãe.

E realmente eu não sabia. Amava Fernanda, mas a distância e o tempo que passávamos separados havia se tornando uma pedra em nosso namoro e de repente sentia um sentimento novo por Jéssica, que não sabia interpretar ao certo naquele momento.

— Quantos dias Fernanda vai passar aqui?

— Quatro dias. Mas acho que ela não vai dormir aqui em casa, pois deverá ficar na casa de sua tia.

— Então decida o que irá fazer. E faça a escolha certa. Estarei aqui se precisar.

— Obrigado mãe.

Fui dormir pensando no que iria fazer e cheguei a uma conclusão. Iria evitar todas as maneiras possíveis que Fernanda viesse à minha casa, pois assim não haveria tanta chance de Jéssica aparecer e encontrá-la aqui. Precisaria da ajuda da minha mãe, e arquitetando planos para o dia seguinte deixei-me seduzir pelo sono.

"Estava andando numa estrada à noite, a lua clareava a ponto de permitir que enxergasse perfeitamente a mata densa e tenebrosa que contornava o percurso que seguia. O vento frio fazia estalar galhos e ruídos assustadores surgiam vez ou outra da sombra das árvores. Cheguei numa bifurcação, onde a estrada da esquerda era estreita e curva, e a da direita era larga e retilínea a ponto de poder enxergá-la sumir no horizonte escuro. Parei por um instante para pensar sobre qual direção tomar, mas comecei a ouvir gritos distantes vindos de trás. Sem coragem de olhar, segui pelo caminho da direita que parecia ser mais fácil e seguro. Corria perdido, desesperado e com medo quando senti uma enorme pata rasgar minhas costas".

Nesse momento eu acordei, e percebi que o pesadelo, apesar de parecer real, tinha sido apenas um pesadelo, e que eu tinha nele tomado o caminho errado. Eram 08:30 da manhã. Levantei e olhei o celular, tinha outra mensagem de Fernanda:

"Boa dia amor, vou ficar na casa da minha tia Lourdes, pois ela me convidou. Consegui pegar o ônibus das 20:00 e devo chegar uma hora mais cedo. Te amo. Bjo"

"Que ótimo amor, estarei te esperando na rodoviária às 16:00 então, se chegar antes me liga. Te amo."

Retornei então a mensagem e fui escovar os dentes e tomar um banho. Estava ouvindo "All my loving" quando minha mãe bateu na porta do quarto avisando que Jéssica estava na sala querendo falar comigo. Vesti uma roupa e saí. Ela deu um excitante sorriso logo que entrei no cômodo. Parecia estar muito feliz com o fato de estarmos juntos, e eu, embora também estivesse, não demonstrava isso diante da minha situação. 

— Bom dia — disse a ela.

— Bom dia, dormiu bem?

— Mais ou menos. Tive um sonho muito estranho. Depois eu te conto como foi.

Sentei ao lado dela no sofá e beijei-lhe.

— Quer tomar café? Minha mãe faz um bolo delicioso. Você não vai resistir. — disse sorrindo.

— Mas é claro, aí você aproveita e me conta sobre seu sonho.

— Então vamos.


Sentamo-nos à mesa e comecei a contar-lhe os detalhes do sonho. Sobre a estrada, a escuridão, o medo, os gritos, e por fim, a pata dilacerando minhas costas. Ela ficou intrigada com o sonho e disse que deve estar ligado com alguma situação que eu estou vivendo. Eu apenas concordei com a cabeça.

Continua...

Acompanhe toda a história:
Mais vale um na mão que dois voando [Parte 03]

Girotto Brito

Escritor

Poeta e contista, autor do livro "Os três lados da moeda: vida e morte em poesia" e colaborador em diversas antologias de contos.

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