Brígida acordou com um gosto
amargo na boca. Estava escuro e não conseguia identificar onde estava. Sua
cabeça doía e não se recordava do que tinha acontecido. Levantou-se lentamente
e procurou uma saída, em vão, não havia janelas e a única porta estava
trancada. Entrou em desespero e começou a gritar pedidos de socorro, mas
ninguém atendia seu chamado. Sentia fome e sede. Lembrou-se então de ter saído
de casa para se encontrar com seu namorado em um bar da Vila Fátima, mas parece
ter sido sequestrada no percurso. Pensava em sua família e no que lhe aconteceria,
quando esbarrou em algum objeto no canto da parede. Era uma caixa, uma pequena
caixa de papelão lacrada com fita adesiva. Brígida a abriu com esperança que
aquilo pudesse ajudá-la de alguma forma, mas tudo que encontrou lá dentro foi
um frasco contendo um líquido, uma lanterna e um bilhete.
Saudações,
cara hóspede. Nessa caixa lhe ofereço o poder da escolha. Diante da atual
situação em que se encontra, poderá beber do veneno que lhe concedi e terás a
liberdade, ou pode recusar-se e esperar que alguém a encontre. Escolha bem.
Sr. Anfitrião
Teve então a certeza de que havia
sido sequestrada. Brígida, aos prantos, pensou muito no que deveria fazer e por
muitas horas não conseguiu tomar decisão alguma. Se ficasse ali morreria de
fome e sede, e se tomasse daquele veneno também poderia morrer. Decidiu então
beber aquele líquido, era a única chance. Ela poderia ser solta após ingerir o
veneno e procuraria um hospital com o máximo de urgência. Tinha decidido.
— Eu vou beber, seu desgraçado!
Está feliz? — gritou desesperada e tomou todo o líquido do frasco.
♠ ♠ ♠
A tarde estava chuvosa e Charles
voltava para sua casa após ter ido comprar cerveja e carne para fazer um
churrasco. Era um sábado chuvoso, ele tinha marcado de assistir o jogo do seu
time com os amigos. Como morava no sítio, tinha pegado a PA-308 que era o
acesso mais rápido à cidade e, quando fez a curva no quilômetro 171,
assustou-se ao ver um corpo jogado no acostamento da rodovia. Parou o carro
bruscamente e desceu para verificar o que havia acontecido. Era uma mulher e
ainda estava viva, mas desacordada e não respondia aos seus sinais. Colocou-a
no carro e a levou para o hospital na cidade.
— Sinto muito senhor, ela não
resistiu. Fizemos o que pudemos para salvá-la, mas ela sofreu vários ataques
cardíacos e veio a óbito. O que o senhor é dela?
— Não a conheço. Encontrei-a caída
na estrada, próximo de Vila Fátima, e a socorri. Não tinha documento, nem
qualquer identificação. O doutor sabe qual foi a causa da morte?
— Não. Ela não apresenta marcas de
agressão, nem qualquer indício de violência. Pode ter sido morte natural
decorrente de problemas cardíacos, mas não posso lhe dar certeza ainda. O corpo
será encaminhado ao Instituto Médico Legal para ser periciado. Enquanto isso,
aconselho que faça um boletim de ocorrência na polícia, registrando o caso.
Afinal, você é a única testemunha da situação em que ela foi encontrada.
— Sim, farei isso agora.
Naquele dia Charles não teve mais
ânimo para o churrasco. A imagem daquela mulher morta lhe tirou o sono durante
dias. Quando a perícia foi concluída todos os jornalistas da cidade vieram à
sua casa e no dia seguinte os jornais noticiavam o caso.
“VÍTIMA DE ENVENENAMENTO É IDENTIFICADA:
BRÍGIDA VASCONCELOS DOS SANTOS”
“MORTE POR ENVENENAMENTO INTRIGA MORADORES DE
VILA FÁTIMA”
“PROFESSOR É O PRINCIPAL SUSPEITO DO CASO
BRÍGIDA VASCONCELOS”
Morte por envenenamento foi o
laudo final, e ele era o único suspeito. Foi chamado à delegacia para depor, e
em seguida levou a polícia ao local onde a encontrou a vítima. Foi liberado
logo em seguida, pois não encontraram ligação nenhuma entre a vítima e Charles.
Brígida foi identificada como namorada de um empresário do ramo têxtil da
cidade vizinha, era trabalhadora, sem inimizades e não possuía familiares vivos.
Um caso bastante complicado para a polícia local que passou a dividir a
suspeita também com o namorado da vítima.
Depois de meses, o caso caiu no
esquecimento. O namorado de Brígida tinha álibis que comprovavam que ele estava
no bar no momento em que ela foi morta, excluindo assim as suspeitas sobre ele,
e Charles não fora indiciado por falta de provas e voltou a trabalhar
normalmente. No entanto, a vontade de descobrir o motivo da morte daquela
mulher o consumia. Passava horas, todos os dias, pensando em como ela teria
parado ali e quem a tinha envenenado.
Certo dia, passando pelo local
onde ele havia encontrado Brígida, resolveu parar. Encostou seu carro no
acostamento e sentou na mureta de proteção da rodovia. Era quase noite, e a
lembrança de tê-la encontrado ali o incomodava muito. Ficou quase meia hora observando
os carros passarem, a beleza das matas e pastos das propriedades rurais do
local e, quando já se dirigia para o carro, um brilho no meio dos arbustos
chamou sua atenção. Era um pequeno frasco de vidro e continha um papel em seu
interior. Curioso, retirou o papel e se surpreendeu com o conteúdo do bilhete. Ela
estava levando aquele frasco quando caiu na estrada e provavelmente o local
onde estava presa fica não muito longe daqui, pois, envenenada, não poderia ter
caminhado por muito tempo do cativeiro até a estrada — foi o que pensou.
Charles correu até o carro e pegou
sua lanterna. Já tinha anoitecido e uma suave chuva acabara de se iniciar.
Entrou na mata justamente onde tinha encontrado o frasco e procurou refazer os
possíveis passos da mulher envenenada, caminhando pelos locais de mata menos
densa. Andou por uns vinte minutos e já pensava em voltar, pois a chuva forte e
a escuridão não o deixavam enxergar e estava receoso em se perder quando
avistou uma luz fraca entre as árvores. Uma casa — pensou. Dirigia-se
lentamente em direção à luz quando ouviu um estalo atrás de si.
♠ ♠ ♠
Charles acordou com um gosto
amargo na boca. Era sangue. Estava escuro e não conseguia identificar onde
estava. Sua cabeça doía e não se recordava do que havia acontecido. Levantou-se
lentamente e procurou uma saída, em vão, não havia janelas e a única porta
estava trancada. Gritou incessantemente por socorro, mas ninguém parecia lhe
ouvir, seu celular não estava mais em seu bolso e seus documentos haviam sido
roubados.
Charles tropeçou. Era uma caixa,
uma pequena caixa de papelão. Ao abrir ele encontrou o mesmo frasco, sua
lanterna e um bilhete com os dizeres:
Saudações, meu novo hóspede.
Nessa caixa lhe ofereço o poder da escolha...
Charles já conhecia o conteúdo do bilhete, e fez sua escolha.
E eu que já sou medrosa, depois dessa não paro para pedir informação e nem matar minha curiosidade de jeito nenhum, rsrs.
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