Retrato de Jan Švankmajer. |
Gotas
de soro pingam lentamente,
continuamente
a contar o tempo.
Tempo
travado, pausado, lento
para o
enfermo, para o paciente.
Jogado
numa maca qualquer, tal pulha,
algemado
como um louco, demente.
O
braço inchado, latejante, dormente,
já
tantas vezes penetrado por agulhas.
Num
corredor vazio e sujo, abandonado
como
um mendigo, escória, indigente.
Sem
nome, sem história, sem parentes,
ele
geme em seu leito, amordaçado.
Tudo
ali é o que não é, é indiferente.
É
noite, é sombra, é tempestade.
É e
não é realidade
a dor
que deveras sente.
Silêncio
rompido pelo ranger de dentes
do
homem, do bicho, do rejeitado
que,
embora amarrado e amordaçado,
grita
por dentro como qualquer gente.
Tudo
em si é o que é:
É
vida, é fuga, é vontade.
É e
não é sanidade,
quiçá
até um tanto de fé.
Show!
ResponderExcluirNada a declarar apenas palmas.
Histórias, estórias e outras polêmicas
Ótimo poema o seu, engajado, bem atual. Fala da situação dos depósitos de doentes que se transformaram os hospitais públicos. O descaso com o ser humano, muito apropriadamente chamado paciente. Mandou bem, Girotto.
ResponderExcluirÓtimo abrir de olhos para como tratam a doença, a loucura... tratando gente como bicho, perdendo a própria humanidade.
ResponderExcluirComo sempre gostosamente ritmado, muito bom de se ler.
beijos.