A poesia, gênero
lírico que foi por milênios o carro-chefe dos gêneros literários, definida por
Paul Valéry como a “[...] arte baseada na
linguagem, mas de significados mais amplos”, encontra nos tempos atuais
enorme resistência de consumo. Embora a poesia contemporânea tenha mostrado
inovações, explorando a Web e os recursos midiáticos não apenas em termos de
divulgação, mas também a que se refere à criação, os poetas, de modo geral,
reclamam da desvalorização do gênero no mercado editorial.
A era moderna da
literatura é marcada pela grande exploração do livro como produto, não como
arte. Os livros são expostos nas estantes das livrarias como desodorantes no
supermercado, onde a beleza do frasco, por vezes, se torna mais atrativo que o
perfume escondido em seu interior. Nesse cenário, a poesia acabou se tornando o
desodorante de odor sublime, mas de embalagem ultrapassada aos padrões atuais,
expostos em pequenas quantidades num canto qualquer da prateleira e consumido
apenas por um pequeno grupo de pessoas que ousaram conhecer o cheio por trás da
embalagem feia ou que também são produtores de desodorantes.
Na contramão
das acusações, devemos nos perguntar se o setor editorial carrega a culpa
integral dessa desvalorização, se a poesia contemporânea perdeu espaço por
estar perdendo ser caráter artístico em prol de uma adequação ao mercado, se os
poetas modernos não estão conseguindo se adequar aos novos consumidores, se os
novos consumidores não estão preparados para assimilar o que está sendo produzido,
etc.
Acredito que
todos carregam sua parcela de culpa, editoras, poetas, leitores, empresários e
governos. Desde o ensino literário oferecido na pré-escola até os altos
investimentos empresariais do setor, todos são culpados. E o poeta, como parte
do processo, também é culpado.
“A força de uma vida que se renda definitivamente
à Arte a ponto de confundir-se com ela parece ser o caminho buscado por alguns
dos poetas brasileiros contemporâneos, que vivem sob a égide do colapso de
expectativas.”,
escreveu Stella Maria Ferreira, fazendo-nos refletir sobre a condição puramente artística
que o poeta dá ao seu trabalho e que talvez seja o maior dos erros da
atualidade. O poeta contemporâneo tem que ser mais do que artista, mais do que
escritor, mais do que contemplador do mundo: tem que se dedicar à
intelectualidade. E digo mais, se o papel do intelectual na história é o de
defender os valores universais e desinteressados — verdade, razão e justiça —,
o papel do poeta deve ser exatamente o mesmo, mas da forma mais bela que seu
espírito conseguir versar. Quem sabe assim, leitores, governos e empresários passem a
olhar de maneira diferente para os poetas e seu poder de mudar a sociedade através
da opinião, da crítica, do pensamento e, ainda assim, da arte.
Artigo escrito por Girotto Brito em 16 de abril de 2015.
A era moderna da literatura é marcada pela grande exploração do livro como produto, não como arte.
ResponderExcluirUma grande e triste verdade. Tudo na nossa sociedade atual passa a ser movimentado só como finanças, e pior, em forma de produtos que nos são apresentados a elevar o nível de descrença no mundo. E tudo ainda como uma realidade sem saída.
Algo sim que preocupa muito.
Excelente visão desse texto.
=)
Ah, gostei imenso do título.
Excluir=)
Obrigado, Priscila. Agradeço a visita e a participação.
ExcluirGirotto, você me despertou um imenso interesse pelo texto através do título. Gostei bastante, como a Priscila.
ResponderExcluirNa verdade, posso trazer isso um pouco mais para perto de nós e de nossa realidade, quando comparo a situação por você descrita, com o blog.
A gente se preocupa demais com o layout, com o template. A gente, na grande maioria das vezes, se recusa a frequentar um blog mais simples, ou aquele rústico, com um caráter um tanto quanto espalhafatoso. Conheço muitos assim. Os blogs que investem em temas personalizados, em suma, são os que mais têm leitura. Isso é triste.
Mas voltando para a poesia, concordo contigo, em todos os aspectos. Somos todos culpados.
Parabéns. Beijo
A estética é importante, mas o conteúdo é ainda mais. Durante esses anos que O Poeta e a Madrugada está na Web já fiz diversas modificações no layout, mais de 10 talvez, mas também me preocupei com a qualidade do conteúdo e estou constantemente buscando aperfeiçoar a escrita e meu conhecimento de mundo, para que isso se reflita nos versos.
ExcluirObrigado mais uma vez pela visita e participação, Carol. Bjão. :)
Muito bom o texto, Girotto. Dai a razão de eu chamar, quando da criação, meu blog de A Poesia está Morrendo. Me referindo ao mercado editorial, embora tive, e venho tendo, uma grata surpresa a poesia dos blogs, da internet de um modo geral. Show, abraços!
ResponderExcluirRealmente, Fábio. Com as barreiras impostas pelo mercado editorial, muitos poetas recorrem à Web. Há, hoje, muitos blogs de poetas que mantém excelente conteúdo, dentre eles o seu.
ExcluirGrande abraço!
Dênis, bastante interessante sua crônica.
ResponderExcluirNão acho que a poesia esteja morrendo e sim, os leitores de poesia. Na verdade escrevemos para os poetas, porque a maioria das pessoas que nos rodeiam, parece não se interessar, ou fingem não ver...
Fugi do tema, Dênis rs?
Até mais, beijão!!!
Fico triste em ver que as pessoas não procuram mais a veracidade ou simplesmente a beleza de uma poesia ,antes era tudo tão significativo, era levado a sério e hoje se trata apenas de interesse!!
ResponderExcluir