Mais vale um na mão que dois voando { Parte III }

by 28.10.13 1 comentários
...

Era divinamente linda. Pele branca cor de pérola, seus cabelos longos, lisos e loiros emitiam o brilho das luzes ao redor. Tinha a boca rosada, os olhos claros penetrantes, e um sorriso que poderia facilmente convencer qualquer homem a cometer uma insanidade. Fiquei perplexo diante de tanta beleza. Ela então me olhou brevemente, e como quem queria me dizer algo, sorriu. Naquele momento eu não sabia o que fazer, não a conhecia, e duvidava que o sorriso tivesse sido realmente para mim. Poderia ter sido pra qualquer outra pessoa que estivesse por perto e, erroneamente, eu poderia estar me iludindo. Quando voltei a mim após alguns segundos, perdido em pensamentos, ela já não estava mais lá. Imaginei que havia entrado na casa da família e a perdi de vista.

Voltei ao local onde estava no início da festa e me servi de mais uma cerveja. Meu pai falou para eu não exagerar na bebida e informou que estaríamos indo embora em vinte minutos. Aborrecido por não ter amigos ali para me acompanharem resolvi esperar meu pai e Denise no estacionamento. Sentei no meio-fio e fiquei saboreando minha cerveja, pensando nas peripécias dos seres humanos, na razão da vida e, principalmente, na forma como conduzia minha própria trajetória.

– Oi! – ouvi uma voz atrás de mim. Era ela – Pensando na vida?

– É, viajo em pensamentos às vezes.

– Sou meio assim também.

– Ah, meus parabéns! Dezessete anos, né?  - Me aproximei para abraçá-la, mas transparecendo meu nervosismo diante da situação. Dei-lhe um abraço, tinha um perfume diferente, doce, gostoso.

– Sim, dezessete. Você é o filho do Sousa, né?

– Sou sim. Meu nome é Felipe, na verdade, mas geralmente as pessoas só lembram de mim como ‘O filho do Sousa’, (risos) já estou acostumado.

– Acontece quando se tem pais muito conhecidos. Meu nome é Jéssica, mas você já deve ter ouvido na festa.

Eu realmente tinha ouvido em algum momento, mas já não me lembrava. Tenho uma péssima memória para gravar nomes de pessoas. O tempo começou a esfriar, estávamos em dias chuvosos, mas só nublava naquela hora. Convidei-a então para caminhar um pouco pela rua enquanto meu pai não vinha, e nos conhecermos melhor. Enquanto caminhávamos ela contava de sua vida, seus afazeres e sua família. Tinha uma voz muito agradável de ouvir. Falei pouco de mim. Sempre fui bastante reservado e contei somente resumos do que eu fazia em meu dia a dia.

– Estou com frio. – De repente ela me diz, mudando totalmente de assunto. E eu, interpretei essa afirmação como sinônimo de “me abraça?”. E foi o que eu fiz. Ela me olhou surpresa, mas seus olhos me diziam que o abraço já era esperado.

– Hoje o acaso me apresentou você, e me mostrou com quem posso ser feliz. – foi o que eu sussurrei em seu ouvido. Exatamente o que eu sentia, que algo novo estava surgindo para mim. Um amor, quem sabe? E ela, passou seu rosto suavemente pelo meu, deslizando sua boa até a minha.


Ali começava uma nova história, mas não encerrada aquela que eu ainda vivia. Eu ainda namorava a Fernanda e, por mais que estivéssemos longe e que o tempo tivesse apagado parte do nosso amor, eu ainda a amava.

Continua...


Acompanhe desde o início:

Girotto Brito

Escritor

Poeta e contista, autor do livro "Os três lados da moeda: vida e morte em poesia" e colaborador em diversas antologias de contos.

Um comentário:

  1. Muito bom o conto. Gostei. Esse nome da menina Jéssica é nostálgico pra mim. Parabéns Denis!

    ResponderExcluir

© 2014 O Poeta e a Madrugada Traduzido Por: Girotto Brito - Designed By Girotto Brito.