O dinheiro sempre foi, para mim, uma utopia. Nascido
em família pobre, eu, Frederico das Chagas, vivi de migalhas durante toda minha
vida, e por ter que trabalhar exaustivamente para garantir meu sustento e de
meu adoecido pai, não consegui estudar o suficiente para conseguir um bom
emprego. Minha família é constituída apenas por mim e meu pai, Francisco das
Chagas que, ironicamente, contraiu a Doença de Chagas há dez anos e vêm lutando
contra a morte desde então. Minha mãe faleceu quando eu ainda era muito novo,
não me lembro dela, e eu, sem mãe e com o pai doente, tive que começar a
trabalhar muito cedo.
Há alguns anos, diante de um início de infarto,
meu pai achando que não passaria daquele dia me chamou em seu leito no
hospital e me disse: “Filho, não passe toda sua vida trabalhando como operário.
Enriqueça! Custe o que custar. O dinheiro lhe trará a vida que almeja”. Aquele
dia foi marcante para mim. Eu decidi naquele momento que seria rico, só não
sabia como. Sem estudo, qualquer trabalho que me dessem seria com baixíssimo
salário, eu não tinha dinheiro para montar meu próprio negócio, então, certo
dia, andando pelo comércio da Rua 13 de
Maio, entrei em uma casa lotérica e fiz minha primeira aposta. Desse dia em
diante me tornei um jogador e passei a economizar os centavos que ganhava para
jogar toda semana na loteria.
Apostar é uma tarefa que requer muita determinação, autocontrole
e paciência. Determinação para abdicar
de muitas coisas para poupar dinheiro para as apostas; autocontrole para que não se endivide gastando o que não tem; e
principalmente paciência, já que não
se pode ter a certeza de quando — ou se — vai ganhar.
Eu passei exatos sete anos, nove meses e três dias
apostando semanalmente, e pensei muitas vezes em desistir, todavia fui
perseverante. E ontem, quando fui conferir o resultado da minha última aposta,
meu coração quase explodiu de euforia, apesar das pessoas ao meu redor não
terem percebido absolutamente nenhuma reação da minha parte. Estava lá: 7 – 11 –
13 – 23 – 47. Eu tinha acabado de me tornar um multimilionário! A sorte sorriu
para mim e me recompensou pelos anos de sacrifício.
Não contei a ninguém, pois quando se trata de dinheiro a ambição corrompe o homem como a ferrugem oxida o ferro. Nenhum amigo, vizinho
ou conhecido ficou sabendo da minha sorte, nem mesmo meu pai. Não que eu
desconfiasse do meu genitor, mas queria poupar seu pobre coração que poderia
não aguentar tal notícia. Apenas fui para casa, tomei um bom banho, escolhi a
melhor roupa entre as poucas que possuo, coloquei meu bilhete premiado na
carteira e fui para o banco.
Os olhares das pessoas na rua pareciam me perseguir,
como se soubessem do meu triunfo. Apressei o passo, meu coração estava
palpitante e me sentia amedrontado. Não foi nem vinte minutos de casa até o
banco e ao entrar me senti mais seguro. As câmeras, os seguranças e os vidros
blindados me fizeram relaxar um pouco.
O Gerente era um senhor de cabelos brancos, gordinho e
de fisionomia serena. Um pouco parecido com meu pai.
— Bom dia, no que posso ajudá-lo? — indagou-me o
simpático gerente.
Eu debrucei sobre sua mesa de modo a ficar mais
próximo dele e disse baixinho:
— Bom dia, eu ganhei o prêmio da loteria e gostaria de
resgatar esse dinheiro e depositar na minha conta.
— Venha comigo. — disse o gerente e me levou para uma
sala particular. — Primeiramente eu quero lhe dar os parabéns, meu rapaz! Que
sorte, hein? Está com o bilhete premiado aí para que eu possa conferir?
— Obrigado, estou sim.
Ele pegou o bilhete e conferiu número por número.
Estava tudo certo. Eu era o ganhador. E após uma rápida consulta no sistema do
banco, ele me disse que eu não só era um ganhador como eu era o único ganhador.
Levei o prêmio sozinho!
— Certo. Preciso que você retorne amanhã com cópias
dos seus documentos, Senhor Frederico. E traga também o bilhete premiado.
Cuidado com ele, se possível não conte aos seus conhecidos que você ganhou,
pois desperta muita cobiça, até mesmo daqueles que achamos que nunca nos faria
mal algum.
— Sim senhor. Ninguém além de nós dois sabe que eu
ganhei. Estarei aqui amanhã às nove, sem falta.
Guardei meu bilhete e voltei para casa. Já fazia planos
de como iria aproveitar todo esse dinheiro: Compraria alguns imóveis, um para
morar e outros para alugar; Compraria um carro e uma moto, talvez um barco;
Viajaria para Fortaleza, Natal, Buenos Aires, Londres e outros lugares que sempre
tive vontade de conhecer; Voltaria a estudar; Abriria uma empresa; Procuraria um
especialista em investimentos; Pagaria os melhores tratamentos para a doença do
meu pai. Enfim, com o prêmio de vinte e quatro milhões daria para fazer muitas
coisas que antes seria impossível.
Pouco dormi
nessa noite, todo aquele sentimento de euforia, medo e alegria me deixaram
elétrico. Meu pai chegou a estranhar meu comportamento, mas eu desconversei e
disse que não era nada.
Às nove da manhã, em ponto, eu já estava no banco e o
simpático gerente já me aguardava em sua mesa e me recebeu muito bem. Entreguei
as cópias dos meus documentos a ele e preenchi alguns formulários. Depois de
assinar tudo que era necessário, ele me chamou para ir à sua sala tomar um
café, e eu, naquele momento tão feliz em minha vida, não rejeitei o convite.
Quando cheguei à sala da gerência, estranhei a presença de dois seguranças e
tentei voltar, mas mal me virei e fui golpeado por um deles.
Acordei dentro
do cofre do banco, amarrado e amordaçado. Levaram todos os meus pertences:
Carteira, relógio, celular, documentos e, principalmente, o bilhete. Não sabia
exatamente há quanto tempo eu estava ali, mas eram horas. Tinha sede e fome. Deviam
estar esperando anoitecer para me matarem, assim ficaria mais fácil tirar meu
corpo dali sem que alguém percebesse. Como eu pude ser tão ingênuo? Deveria ter
contado ao meu pai, ou a alguns poucos amigos mais próximos. Meu medo e desconfiança me colocaram naquele
lugar.
Ouvi o barulho da porta se abrindo. O velho gerente
entrou no cofre acompanhado dos dois homens.
— O coloquem no carro e não deixem que ninguém os
veja. — deu a ordem.
Fui jogado no porta-malas de um Monza preto e levado
para um sítio afastado da cidade. Pelo menos foi a conclusão que eu cheguei
após sentir o carro trepidando por causa da estrada sem asfalto e pelo tempo de
viagem.
Agora estou aqui, amarrado em uma árvore, com frio,
fome, sede e esperando a inevitável morte. Meus imóveis, carros, barcos e as
tão sonhadas viagens, serão apenas alguns sonhos de um pobre operário que achou,
inocentemente, que poderia realizá-los. E meu pai, pobre homem, que tanto tive
medo de perder, o que será dele sem mim? Maldito seja o dinheiro, que me fez
acreditar em sua falsa promessa. A promessa da felicidade.
Eles voltaram. Aqui finda a história deste pobre
ganhador.
Nossa esse texto é seu ? Se sim. Poderia fazer uma coletânea de contos, já pensou nessa possibilidade ??
ResponderExcluirEnfim, vim retribuir a sua atenção.
Seguindo aqui !! Obrigada :)
beijos s2
http://maetoescrevendo.blogspot.com.br/2014/03/dia-nacional-da-poesia.html
Sim Lêeh, todos os contos e poesias aqui do blog são escritos por mim. Obrigada por participar, também acompanho seu blog.
ResponderExcluirmas que saliencia teacher
ResponderExcluirgostei do fim nao opskpsoksp
deu vontade de entrar na historia e salvar esse cara
coitado do pai dele mano
Rsrs. O fim foi um tanto quanto inusitado né? Mas é a vida, nem sempre os finais são felizes.
ResponderExcluirótimo texto, adorei seu espaço \o
ResponderExcluirObrigada por ter passado lá no nosso blog e por comentar, estamos seguindo :3
-Gio
Eu que agradeço Gio. :)
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